terça-feira, 23 de agosto de 2011

Planejamento estratégico situacional




Dicas de PES.
 No livro O método PES: entrevista com Matus o conceito de Planejamento Estratégico Situacional (PES) é desenvolvido com bastante profundidade e amplitude. Os conceitos deste método são apresentados abaixo, e organizados em tópicos que seguem a mesma estrutura dos capítulos deste livro que é, em grande medida, a obra de referência sobre o PES.
Matus defende a idéia de que a compreensão da realidade é tão diferente quanto são diferentes as posições a partir das quais as pessoas a observam. Assim, "a realidade não é explicável pela simples descrição, mas pelas leituras que se fazem dela, sob diferentes chaves de interpretação, de acordo com os interesses objetivos dos atores" (p. 30). Partindo-se deste princípio, passa a ser possível tentar-se entender o outro, assimilar seu ponto-de-vista sem, com isso, necessariamente dar-lhe razão. A idéia que está por trás disso abre espaço para conhecer-se a chave com a qual o outro compreende a realidade dele próprio, e a minha. De qualquer modo, entender e ceder não devem ser considerados nem sinônimos, nem como elementos de uma relação de implicação: são conceitos completamente independentes entre si. (p. 31).
Uma importante diferenciação desenvolvida por Matus está nos conceitos de análise situacional e de diagnóstico. O conceito de situação "obriga a determinar quem explica; toda explicação é dita por alguém a partir de uma posição no jogo social. Explicar é identificar-se com uma leitura da realidade." Neste sentido, "a análise situacional obriga a diferenciar as explicações. Cada ator avalia o jogo social de modo particular e atua segundo sua própria interpretação da realidade." Por este raciocínio, passa a fazer sentido a idéia de que "se ignoro a explicação do outro ou lhe atribuo a minha, é impossível jogar bem e ser um bom estrategista." O conceito de diagnóstico, para Matus, "por sua falta de rigor e por reduzir-se a uma explicação única, não pode alimentar o cálculo interativo." (p. 32-33).
Em síntese, há dois conceitos-chave diferenciáveis aqui:
  • Diagnóstico: redução da realidade a uma explicação única;
  • Situação: explicações assimétricas sobre a realidade; pressupõe não apenas "respostas diferentes a perguntas iguais, mas respostas diferentes a perguntas diferentes, e que para um mesmo problema, há diferentes valores e chaves de interpretação possíveis (p. 32-33).
  • Há outra dialética entre conceitos que Matus desenvolve, o de problemas e o de setores. No Planejamento Estratégico Situacional parte-se do pressuposto de que "a realidade gera problemas, ameaças e oportunidades. O político trabalha com problemas e a população sofre problemas. É um conceito muito prático, reclamado pela própria realidade, que faz o planejamento aterrizar. Ao contrário, o conceito de setor é uma imposição analítica, é muito genérico, pouco prático e mais apropriado à análise macroeconômica. Os problemas reais cruzam os setores e têm atores que se beneficiam ou são prejudicados por eles." Adicionando uma componente democrática à reflexão, Matus afirma que "em torno de problemas, a participação cidadã é possível; em torno de setores, é impossível", pois "os atores do jogo social lidam com problemas, não com setores." (p. 35).
    Na metodologia do Planejamento Estratégico Situacional desenvolve a idéia de "processamento de problemas", o qual pode ser dividido em quatro procedimentos:
    • Explicar como nasce e como se desenvolve o problema;
    • Fazer planos para atacar as causas do problema mediante operações;
    • Analisar a viabilidade política do plano ou verificar o modo de construir sua viabilidade;
    • Atacar o problema na prática, realizando operações planejadas.
    Para melhor desenvolver este "processamento de problemas", o Planejamento Estratégico Situacional desenvolveu uma ferramenta metodológica própria, o Vetor de descrição de um problema (VDP), cujas principais funções são:
    • Reunir em um único significado, para o ator que o analisa, as diferentes interpretações possíveis para o nome do problema;
    • Determinar o que deve ser explicado;
    • Verificar o problema de modo monitorável, para que se possa acompanhar sua evolução;
    • Verificar a eficácia da ação para enfrentá-lo: se o problema melhora ou piora por causa do plano, melhora ou piora o VDP. (p. 37-38).
Matus, Carlos. O método PES: entrevista com Matus / Franco Huertas; tradução de Giselda Barroso Sauveur. São Paulo: Fundap, 1996. 139 p. ISBN 978-85-7285-047-3.

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